Comunicado do governo Maduro afirma que Itamaraty tenta enganar a comunidade internacional
Neste último sábado (2), o governo da Venezuela acusou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil de se “passar por vítima”, manipular a comunidade internacional e violar os princípios da Carta da ONU.
O comunicado foi emitido após o Palácio do Itamaraty divulgar uma nota na sexta-feira (1º), condenando publicações da Polícia Nacional venezuelana com ameaças direcionadas ao Brasil, descritas como “ofensivas” pela diplomacia brasileira.
O atrito entre os dois países teve início após o país de Nicolás Maduro ter a entrada nos Brics,— bloco econômico que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul —, vetada pelo Brasil.
O incômodo no governo venezuelano começou após o Brasil não reconhecer a suposta vitória de Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho.
Desde então, as relações diplomáticas se deterioraram, e a Venezuela tornou-se “incompreensível” a postura do Brasil, acusando o país de “fazer-se passar por vítimas numa situação em que agiram claramente como vitimizadores”.
O Itamaraty rebateu as críticas venezuelanas afirmando que o país vizinho preferiu “ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos”, prática que, segundo o governo brasileiro, contradiz o tratamento respeitoso dispensado pelo Brasil à Venezuela.
Esse posicionamento foi feito em resposta a uma publicação da Polícia Nacional da Venezuela, que continha uma imagem borrada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a bandeira brasileira ao fundo e a frase:
“Quem se mete com a Venezuela se dá mal”
Ainda nesse sábado, o Itamaraty também foi acusado de “agressão descarada e rude” contra o presidente Nicolás Maduro e a sociedade venezuelana.
Segundo o comunicado do governo venezuelano, as ações brasileiras violam a Carta das Nações Unidas, além de contrariarem a Constituição brasileira, não que diz respeito à “não interferência nos assuntos internos dos Estados”.
“O Governo Bolivariano insta, mais uma vez, a burocracia do Itamaraty a desistir de interferir em questões que dizem respeito apenas aos venezuelanos, evitando a deterioração das relações diplomáticas entre os dois países, para o que devem assumir uma conduta profissional e diplomática respeitosa, como a Venezuela tem demonstrado através de sua política externa”, conclui o comunicado.
A crise recente se intensificou com o veto brasileiro à entrada da Venezuela nos Brics, em uma decisão que repercutiu durante a Cúpula do bloco, realizada entre 22 e 24 de outubro em Kazan, na Rússia.
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Na ocasião, Maduro fez um pronunciamento alegando que a Venezuela “faz parte desta família dos Brics”, mesmo sem a formalização oficial da adesão. Dias depois, o líder venezuelano acusou o Itamaraty de conspirar contra governo do país e de estar “muito vinculado ao Departamento de Estado dos Estados Unidos”.
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, negou as acusações de conspiração contra o país vizinho e reiterou que o veto aos Brics foi embasado em critérios do próprio bloco. Em retaliação, o presidente do Legislativo venezuelano, Jorge Rodríguez, ameaçou declarar Amorim “persona non grata”.
Na última terça-feira (30), a Venezuela deu um passo diplomático significativo, convocando seu embaixador em Brasília, Manuel Vadell, para consultas em Caracas. Esse movimento simboliza um forte protesto e pode indicar um possível rompimento de relações entre os países caso o governo de Maduro se aposente definitivamente Vadell do Brasil.