Segundo a OpenAI, a DeepSeek teria recorrido à chamada “destilação”, uma técnica que extrai dados de grandes modelos de IA para treinar versões menores.
A OpenAI afirmou ter evidências d que a startup chinesa DeepSeek utilizou dados do ChatGPT para treinar o próprio chatbot. A informação foi confirmada pela empresa ao Financial Times e levanta questionamentos sobre práticas éticas e concorrência no setor de inteligência artificial.
A suspeita surge um dia depois de Sam Altman, CEO da OpenAI, ter elogiado o avanço do DeepSeek, que sacudiu o mercado de IA ao superar o ChatGPT como o aplicativo mais baixado na App Store dos EUA na segunda-feira (27).
“Obviamente, entregaremos modelos muito melhores, e também é legítimo e revigorante termos um novo concorrente! Faremos alguns lançamentos”, declarou Altman.
Segundo a OpenAI, a DeepSeek teria recorrido à chamada “destilação”, uma técnica que extrai dados de grandes modelos de IA para treinar versões menores. Essa prática, no entanto, viola os termos de serviço da empresa, segundo o The Verge, embora a OpenAI permita que a API seja integrada a aplicativos de terceiros.
A denúncia motivou uma investigação da OpenAI e da Microsoft para apurar se dados da empresa foram obtidos de maneira não autorizada por um grupo ligado à DeepSeek. A Microsoft, sócia da OpenAI, se recusou a comentar o caso, segundo a Reuters.
David Sacks, conselheiro da Casa Branca para IA e criptomoedas, afirmou à Fox News que é “possível” que a DeepSeek tenha roubado propriedade intelectual dos Estados Unidos.
“Há evidências substanciais de que o que o DeepSeek fez foi destilar o conhecimento dos modelos da OpenAI”, disse.
DeepSeek desafia liderança americana na IA
O impacto do DeepSeek no mercado foi imediato: além de superar o ChatGPT em downloads, o lançamento causou uma perda de US$ 1 trilhão em valor de mercado para as “big techs” na Bolsa de Nova York.
O fenômeno foi comparado ao “momento Sputnik”, em referência ao satélite soviético que surpreendeu os EUA e desencadeou a corrida espacial nos anos 1950. A ascensão da IA chinesa acendeu alertas sobre a liderança americana no setor.
A Casa Branca já avalia as possíveis implicações do DeepSeek para a segurança nacional. Congressistas vêm usando a questão para justificar medidas como a lei que exige que o TikTok venda a operação nos EUA para continuar no país.
Baixo custo levanta dúvidas sobre o modelo de negócios
O DeepSeek chamou atenção não apenas pelo desempenho, mas pelo baixo custo de desenvolvimento. Os criadores afirmam que o treinamento custou apenas US$ 6 milhões, um valor muito inferior aos US$ 100 milhões investidos pela OpenAI na versão mais recente do ChatGPT.
Além disso, a startup teria usado apenas 2 mil chips, enquanto empresas como OpenAI e Google dependem de supercomputadores com até 16 mil chips. Isso levanta suspeitas sobre a viabilidade do modelo.
“Parece algo forçado, para dizer que as inovações lançadas pela DeepSeek são completamente desconhecidas pelos maiores pesquisadores do setor”, disse Stacy Rasgon, da consultoria Bernstein, à Reuters.
O fundador da DeepSeek, Liang Wenfeng, manteve um perfil discreto até 20 de janeiro, quando discursou em um simpósio a portas fechadas com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang. A empresa, criada em 2023, recebeu financiamento do fundo de hedge High-Flyer, que possui patentes ligadas a chips usados no treinamento de IA.
O DeepSeek está disponível gratuitamente e pode ser baixado na App Store e no Google Play. Ele suporta múltiplos idiomas, incluindo o português, embora o desempenho seja melhor em inglês e chinês, segundo a empresa.
A disputa entre OpenAI e DeepSeek marca um novo capítulo na corrida global pela supremacia na inteligência artificial, onde não apenas tecnologia, mas geopolítica e segurança nacional entram em jogo.