Polímero é permanente e só pode ser retirado cirurgicamente em casos de complicações, segundo dermatologista ouvida pela Rede MLC
A influencer Mariana Michelini Redigolo, de Matão, no interior de São Paulo, precisou retirar o lábio superior após sofrer uma inflamação, seis meses depois da aplicação do PMMA em uma harmonização facial. Ela sofreu com inchaços e fortes dores e, somente após três anos, começou o processo de reconstrução de seu rosto.
Um boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil de Matão e um processo sobre o caso está em andamento.
O advogado de defesa da dentista, Damaris Grace de Jesus, envolvida no caso, Marcos Tulio Paranhos Costa, disse que não pode se manifestar sobre as particularidades do processo pois está em segredo de Justiça. O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp) informou que o caso é apurado.
PMMA é a sigla para polimetilmetacrilato, uma substância plástica utilizada para preenchimentos em tratamentos estéticos faciais e corporais, sobretudo para aumento dos glúteos. Entretanto, sua composição pode causar reações inflamatórias que, por sua vez, podem levar a deformidades e necrose dos tecidos onde foi aplicado.
A dermatologista Janaína Tirapelle explicou à Rede MLC que existem duas marcas regulamentadas para comercialização no Brasil. E que ambas tem indicações de uso em referência à aplicação no lábio. “O produto é indicado para correção volumétrica facial e corporal em casos de lipodistrofia por uso de antirretrovirais em pacientes HIV positivo. Também é indicado na correção volumétrica facial, podendo ser utilizado em sulcos nasolabiais, linhas glabelares, cantos da boca, linhas superiores dos lábios, cantos da boca, linhas mentonianas, mento (queixo), na região malar, em cicatrizes de acne, no nariz, para aumento de lábios e no contorno facial” explicou.
Segundo a médica, a substância poderia ser usada no lábio, com recomendação, do fabricante.
Como o PMMA é usado?
O PMMA é uma substância definitiva e tem forma de microesferas plásticas. Sua aplicação no rosto começou na década de 1980 para correção de lipoatrofia facial em pacientes que faziam tratamento de HIV.
“Eu, particularmente, não considero seguro usar o produto para aumentos volumétricos, por motivação estética, sem finalidade corretiva, já que há outros produtos disponíveis e regulamentados para esse fim, como o ácido hialurônico, por exemplo”, explicou a médica.
Quais são as possíveis reações do uso do PMMA?
Como é um plástico de uso definitivo, o uso pode levar a reações inflamatórias que causam:
- dor crônica;
- infecções;
- formação de nódulos que podem levar a deformidades;
- necrose do tecido.
Ele ainda pode causar problemas renais por deposição de cálcio no organismo, se utilizado em grandes quantidades. Alguns pacientes têm cálculos renais evoluindo até para uma complicação renal aguda, precisando de diálise.
Como é feita a remoção do PMMA?
A aplicação é feita via cânula, como em vários procedimentos estéticos, e pode ser feita por algumas categorias de profissionais da área de saúde. Mas como é um produto permanente, só pode ser removido cirurgicamente por médicos.
“Por ser uma substância definitiva ela adere aos tecidos e como é distribuída naquele tecido você não consegue retirar por completo. Não é como um silicone que você vai lá e retira tudo. Ela está impregnada nos tecidos, então acaba tendo uma mutilação porque você acaba retirando o tecido subcutâneo e até músculos“, explicou.
“Portanto, poderia ser usado em lábio, segundo a recomendação, do fabricante. Entretanto, na prática, por se tratar de uma área anatômica peculiar, com presença de artérias que podem, se ocluídas, apresentar repercussão não só no lábio, como também na área de pele ao seu redor, incluindo nariz, não se vê justificativa razoável para fazer uso de uma substância que não apresenta um reversor disponível, diferente do que acontece no caso do ácido hialurônico. O ácido hialurônico, produto classicamente utilizado para preenchimentos labiais, possui como seu reversor a enzima hialuronidase, capaz de degradar o produto, se inadvertidamente injetado no interior de um vaso sanguíneo ou mesmo fora dele mas fazendo compressão próxima a ele, a ponto de ocluir seu fluxo sanguíneo” concluiu.
O produto tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas apenas algumas marcas são permitidas e, mesmo com os riscos, a aplicação é muito comum, principalmente para aumento dos glúteos.
Segundo a dermatologista, a Anvisa esclarece que o produto não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos. Porém, não há indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial.
Ela enfatiza que cabe ao profissional médico responsável avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto.
A dermatologista orienta as pessoas interessadas em realizar o procedimento a se informarem tanto do produto que está sendo utilizado quanto do profissional que irá realizá-lo.
Quais cuidados devem ser tomados antes do uso do PMMA?
Informe-se sobre o profissional e observe se ele dá todas as orientações sobre os riscos do procedimento;
pergunte qual é o produto utilizado e peça para ver o que está sendo aplicado;
busque saber dos riscos da aplicação do PMMA (ou qualquer outro produto a ser aplicado) e fique ciente das complicações que existe.