Reindustrialização
Nas últimas décadas, os governos não conseguiram implantar uma política industrial e de comércio exterior compatível com a macroeconomia, capaz de retomar o crescimento da nossa indústria de transformação.
Pelo contrário, em alguns momentos a indústria sofreu em decorrência da ultra valorização do Real frente ao dólar, das altas taxas reais de juros e da elevada tributação, além do custo Brasil, derivado das carências da infraestrutura.
A combinação da falta de política industrial com os ônus decorrentes do câmbio, juros, tributos e infraestrutura não podia dar em outra coisa que não a desindustrialização. De 1995 a 2021, nosso PIB cresceu 71,5% e a indústria de transformação apenas 16,6%. Em decorrência, a participação da manufatura no PIB brasileiro caiu de 14,2% para 9,6% no período. E 2022 foi pelo mesmo caminho.
Precisamos aproveitar as oportunidades que surgirão na esteira dos maiores movimentos de desglobalização que vem ocorrendo em decorrência da Covid-19 e da guerra Rússia-Ucrânia, bem como da transição energética rumo à economia verde e focar na nossa reindustrialização.
Isso não significa reforçar estruturas protecionistas, mas, além de políticas horizontais (tributação, juros, câmbio, educação, infraestrutura, etc.), definir políticas verticais de apoio à inovação e ao desenvolvimento tecnológico para segmentos específicos da indústria.
Termos como reshoring, nearshoring, slowbalization têm sido recorrentes nas discussões empresariais e oficiais. É importante ficarmos atentos a estes movimentos para execução da estratégia de reindustrialização.
Jamais deixaremos de ser uns dos principais países produtores e exportadores de produtos primários do mundo, o que é muito importante. Mas, para sairmos da armadilha de país de renda média, precisaremos integrar o país à cadeia produtiva mundial da indústria de transformação.
Roberto Figueiredo Guimarães
Diretor de economia da ABDIB e ex-secretário do Tesouro Nacional
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