Necessidade descontrolada de realizar compras geralmente é sinal de que algo não vai bem com a saúde mental e pode estar associada à depressão e ansiedade
As promoções parecem sempre tentadoras. É a oportunidade perfeita de conseguir um item tão desejado por um preço vantajoso. E em datas como a Black Friday, a tentação de comprar é algo comum à boa parte dos consumidores. O problema é quando a vontade de comprar se torna uma compulsão.
A doença é conhecida como oniomania. O transtorno é caracterizado pelo comportamento repetitivo de comprar e gastar descontroladamente, havendo uma falha em resistir a esse impulso. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8% da população mundial sofre com a compulsão por compras.
Consumismo x compulsão
Nem todos que gostam de comprar ou que realizam compras por impulso são diagnosticados com esse distúrbio. Patrícia Alecrim, psicanalista, explica que é preciso diferenciar o consumismo da compulsão.
“O consumista consome como todo mundo consome, pelo prazer, pelo desejo, para estar inserido em um contexto social e cultural, é um comportamento. Já o comprador compulsivo consome em excesso. É uma condição, uma doença, e está vinculada a suprir uma necessidade emocional“, destaca Patrícia.
No caso do comprador compulsivo, há o gasto em excesso porque se procura tratar uma questão emocional com algo concreto. A condição está muito atrelada quadros de ansiedade e depressão.
A psicóloga Jéssica Vieria pontua que a compulsão é caraterizada por uma ação por impulso, que não pode ser controlada. “Uma forma de perceber é observar o que sente após realizar uma compra, como por exemplo a culpa, quando a pessoa sente culpa por comprar algo que não precisava e tem consciência disso ela começa a se sentir mal, ter sintomas depressivos e ansiosos, ainda mais se não estiver numa boa condição financeira. É necessário primeiramente fazer terapia para entender as causas e a origem, e tratá-las no seu real motivo “, detalha.
O ciclo mental vivido por aqueles que são diagnosticados com oniomania se assemelha a uma dependência química. Em ambos os casos a pessoa se vê inserida em um sistema de recompensa cerebral, o que aproxima a compulsão por compras de outros tipos de dependências comportamentais.
Por ser um problema de natureza psicológica, requer tratamento especializado e é importante procurar ajuda. “Não é um problema de organização financeira. É um problema emocional que leva a um desequilíbrio financeiro”, defende Patrícia Alecrim.
Black Friday não é a causa
Apesar de ser uma data que estimula o consumo, a Black Friday não desencadeia transtornos de compulsão por compras. As especialistas explicam que a data é apelativa a todos os consumidores e, no caso daqueles que já tem um problema emocional, pode ser um momento de ainda mais estímulo.
“No caso do comprador compulsivo, há um terreno muito fértil nesse tipo de data, pelo medo de perder uma oportunidade. É uma situação com potencial de ser extremamente viciante e faz com que ele caia facilmente nas estratégias para o consumo principalmente nas redes sociais, é “, afirma Patrícia.
Cuidado com os impulsos
Para aqueles que enfrentam o transtorno de compulsão por compras, Jéssica Vieira, destaca que é preciso ter ainda mais cuidado na Black Friday, principalmente pela maior suscetibilidade aos estímulos da data.
- Nessa época de promoção faça listas daquilo que esta genuinamente precisando, e sempre leve alguém com você quando for comprar as coisas anotadas nessa lista;
- Compre aquilo que realmente precisa com um menor preço é vantajoso e não traz tanta culpa;
- Se não tiver nada pra anotar evite ir a shoppings ou lojas, e troque por programações como cinema, restaurantes com amigos e família;
- Procure fazer psicoterapia.