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Política

Fundão Eleitoral: Benefício ou desperdício de dinheiro público?

O valor do Fundo Eleitoral é aprovado anualmente pelo Congresso Nacional e incluído na Lei Orçamentária Anual (LOA). - Foto: AGF Advice
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O Fundo Eletiral é alvo de debates acalorados, especialmente em tempos de crise econômica.

O Fundo Eleitoral é uma reserva de dinheiro público criada para financiar as campanhas eleitorais no Brasil.

Conhecido oficialmente como Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), ele foi instituído em 2017 após o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar inconstitucionais as doações de empresas para campanhas políticas.

A finalidade do fundo é garantir que todos os candidatos tenham acesso a recursos financeiros para suas campanhas, promovendo uma disputa mais justa e equilibrada.

Supremo Tribunal Federal (STF) – Foto: Divulgação/STF

O valor do Fundo Eleitoral é aprovado anualmente pelo Congresso Nacional e incluído na Lei Orçamentária Anual (LOA). A distribuição dos recursos segue critérios específicos estabelecidos pela Lei 13.487/2017:

  • 2% do total é dividido entre todos os partidos com estatuto reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE);
  • 35% é rateado entre os partidos que possuem pelo menos um representante na Câmara dos Deputados, com base na proporção de votos obtidos na última eleição para a Câmara;
  • 48% é distribuído proporcionalmente ao tamanho das bancadas na Câmara dos Deputados;
  • 15% é repassado aos partidos com representação no Senado, seguindo a proporção do tamanho de suas bancadas.

Os partidos devem informar ao TSE como pretendem dividir os recursos entre os candidatos e diretórios regionais, sendo obrigados a destinar 30% dos fundos para candidatas mulheres e outros 30% para campanhas de candidatos negros.

Polêmica em torno do Fundo Eleitoral

O fundo é alvo de debates acalorados, especialmente em tempos de crise econômica. Em 2021, a proposta inicial do Congresso destinou R$ 5,7 bilhões para o fundo, mais que o dobro do valor aprovado para as eleições municipais de 2020 (R$ 2,03 bilhões).

Após críticas, o ex-presidente Jair Bolsonaro sancionou um valor menor, de R$ 4,9 bilhões.

Para 2024, o montante destinado ao Fundo Eleitoral foi de aproximadamente R$ 5,1 bilhões, novamente levantando questionamentos sobre a utilização de recursos públicos.

Câmara dos Deputados – Foto: Divulgação/Zeca Ribeiro

O Partido dos Trabalhadores (PT) tem sido um dos maiores beneficiados pelo Fundo Eleitoral.

Com uma ampla bancada na Câmara dos Deputados e no Senado, o partido recebe uma parcela significativa dos recursos.

Sessão solene de aniversário do PT no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), 2024 – Foto: Divulgação/Gab. Ricardo Vale

Antes da criação do Fundo Eleitoral, as campanhas políticas no Brasil eram financiadas, em grande parte, por doações de empresas.

No entanto, em 2015, o STF proibiu essa prática, argumentando que as doações empresariais criavam um desequilíbrio na competição eleitoral e favoreciam a corrupção.

Com a proibição, restaram apenas duas alternativas: doações de pessoas físicas e o financiamento público. No Brasil, a cultura de doações individuais para campanhas é fraca, o que deixou o financiamento público como a única opção viável.

Críticos do Fundo Eleitoral argumentam que o uso de dinheiro público para financiar campanhas políticas é um desperdício de recursos que poderiam ser destinados a áreas mais urgentes, como saúde, educação e segurança.

O Fundão Eleitoral e a contradição dos críticos em 2022

Em 2022, diversas figuras políticas que inicialmente criticaram o fundo eleitoral de R$ 5 bilhões acabaram por se beneficiar da verba para suas campanhas.

Abaixo, destacamos alguns dos principais nomes e suas contradições:

Major Vitor Hugo (PL-GO)

  • Crítica: Classificou o fundo eleitoral como “exagero” na época da votação.
  • Uso do Fundão: Recebeu R$ 7 milhões para sua campanha ao governo de Goiás, sendo o parlamentar do “grupo dos contra” que mais utilizou a verba.

Rodrigo Cunha (União-AL)

  • Crítica: Descreveu o fundo como “vergonha” e “desrespeito aos brasileiros” em dezembro de 2021.
  • Uso do Fundão: Aceitou R$ 6 milhões para sua candidatura ao governo de Alagoas. Justificou a mudança afirmando que os valores são determinados pelos partidos e que era contra o aumento, não contra o fundo em si.

Bia Kicis (PL-DF)

  • Crítica: Associou o fundo eleitoral à corrupção em vídeos e postagens.
  • Uso do Fundão: Recebeu R$ 2 milhões para sua tentativa de reeleição na Câmara dos Deputados, justificando a mudança de postura pela necessidade de igualdade de condições na disputa eleitoral.

André Janones (Avante-MG)

  • Crítica: Descreveu o valor do fundo como uma “desconexão” com a realidade do Brasil.
  • Uso do Fundão: Recebeu R$ 500 mil para sua campanha de reeleição. Afirmou que era contra o aumento do fundo, não contra o fundo em si, e que continuaria a usar enquanto existisse.

Eduardo Bolsonaro (PL-SP)

  • Crítica: Chamou o fundo de “excrescência”.
  • Uso do Fundão: Recebeu R$ 500 mil para sua campanha de reeleição, mas não justificou publicamente a mudança de postura.

Carla Zambelli (PL-SP)

  • Crítica: Descreveu o fundo como “aberração” e “escárnio”.
  • Uso do Fundão: Aceitou R$ 1 milhão para financiar sua reeleição, justificando a decisão por meio de uma enquete com seus eleitores que consentiram o uso da verba.

O único partido que manteve sua posição contrária ao fundo eleitoral foi o Novo, que rejeitou os R$ 87,7 milhões destinados às suas campanhas, devolvendo-os aos cofres públicos.

Proposta do Fundão para a saúde no pico da pandemia no Brasil

Durante o auge da pandemia de COVID-19 no Brasil, quando o sistema de saúde estava à beira do colapso, surgiram diversas propostas para redirecionar recursos para o combate à crise sanitária.

Uma dessas propostas foi a de utilizar parte do fundo eleitoral, destinado às campanhas políticas, para reforçar o orçamento da saúde.

A ideia de redirecionar o fundo eleitoral ganhou força em 2020, impulsionada por parlamentares preocupados com a grave situação do país. O deputado federal Paulo Ganime (NOVO-RJ) foi um dos principais defensores dessa medida.

Ganime e outros membros de seu partido argumentavam que, diante de uma emergência de saúde pública, era mais sensato e ético utilizar os recursos do fundo eleitoral para salvar vidas.

A proposta enfrentou resistência significativa. Muitos parlamentares, especialmente aqueles de partidos maiores e com grandes campanhas eleitorais, foram contrários à medida.

Muitos alegavam que o fundo eleitoral era essencial para a democracia e que a saúde deveria ser financiada por outras fontes.

Em uma votação realizada na Câmara dos Deputados, a proposta foi rejeitada. Entre os partidos que mais se opuseram ao redirecionamento estavam o PT, o MDB, o PL e o PSDB.

Sem o redirecionamento dos recursos do fundo eleitoral, o governo teve que buscar outras formas de financiamento para enfrentar a pandemia.

Houve aumentos significativos no déficit público e diversas medidas provisórias foram editadas para alocar recursos adicionais à saúde.

A discussão do caso destacou a polarização política e as diferentes visões sobre o uso dos recursos públicos em situações emergenciais.

Os partidos têm acesso ao fundão

Todos os partidos com estatuto reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) têm acesso aos 2% do fundo eleitoral destinados aos partidos em geral. Os partidos são:

  • Avante
  • Cidadania
  • Democracia Cristã (DC)
  • Movimento Democrático Brasileiro (MDB)
  • Novo
  • Patriota
  • Partido Comunista Brasileiro (PCB)
  • Partido Comunista do Brasil (PC do B)
  • Partido da Causa Operária (PCO)
  • Partido Democrático Trabalhista (PDT)
  • Partido Liberal (PL)
  • Partido da Mulher Brasileira (PMB)
  • Partido da Mobilização Nacional (PMN)
  • Podemos
  • Progressistas (PP)
  • Partido Republicano da Ordem Social (Pros)
  • Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB)
  • Partido Socialista Brasileiro (PSB)
  • Partido Social Cristão (PSC)
  • Partido Social Democrático (PSD)
  • Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)
  • Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)
  • Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)
  • Partido dos Trabalhadores (PT)
  • Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)
  • Partido Trabalhista Cristão (PTC)
  • Partido Verde (PV)
  • Rede Sustentabilidade
  • Republicanos
  • Solidariedade
  • União Brasil
  • Unidade Popular (UP)

Os outros 98% do fundo eleitoral são distribuídos proporcionalmente ao tamanho das bancadas dos partidos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Quem votou a favor do fundão

O projeto de lei (PLS 206 de 2017) que deu origem ao fundo eleitoral foi aprovado no Senado com uma margem apertada: 33 senadores votaram a favor, 31 foram contra e um se absteve.

Na Câmara, o projeto de lei teve 223 votos favoráveis, 209 contra e uma abstenção. A sanção foi realizada por Michel Temer, presidente da República à época.

Veja os votos por bancada:

CIDADANIA
Parlamentar UF Voto
Cristovam Buarque DF NÃO
Total CIDADANIA: 1
DEM
Parlamentar UF Voto
Davi Alcolumbre AP SIM
Ronaldo Caiado GO NÃO
Total DEM: 2
MDB (ex-PMDB)
Parlamentar UF Voto
Airton Sandoval SP SIM
Dario Berger SC NÃO
Eduardo Braga AM NÃO
Fernando Coelho PE SIM
Garibaldi Alves Filho RN SIM
Hélio José DF SIM
João Alberto Souza MA SIM
José Maranhão PB SIM
Kátia Abreu TO SIM
Raimundo Lira PB NÃO
Renan Calheiros AL NÃO
Roberto Requião PR ABSTENÇÃO
Simone Tebet MS NÃO
Valdir Raupp RO SIM
Waldemir Moka MS NÃO
Total MDB: 14
PC do B
Parlamentar UF Voto
Vanessa Grazziotin AM SIM
Total PC do B: 1
PDT
Parlamentar UF Voto
Acir Gurgacz RO NÃO
Total PDT: 6
PL (ex-PR)
Parlamentar UF Voto
Cidinho Santos MT NÃO
Magno Malta ES NÃO
Vicentinho Alves TO SIM
Wellington Fagundes MT SIM
Total PL (PR): 4
PODEMOS
Parlamentar UF Voto
Álvaro Dias PR NÃO
José Medeiros MT NÃO
Romário RJ NÃO
Total Podemos: 3
PP
Parlamentar UF Voto
Benedito de Lira AL SIM
Ciro Nogueira PI SIM
Ivo Cassol RO SIM
Roberto Muniz BA SIM
Wilder Morais GO SIM
Total PP: 5
PSB
Parlamentar UF Voto
Antonio Carlos Valadares SE NÃO
João Capiberibe AP NÃO
Lídice da Mata BA SIM
Lúcia Vânia GO NÃO
Roberto Rocha MA SIM
Total PSB: 5
PSC
Parlamentar UF Voto
Pedro Chaves MS NÃO
Total PSC: 1
PSD
Parlamentar UF Voto
Lasier Martins RS NÃO
Omar Aziz AM NÃO
Otto Alencar BA NÃO
Total PSD: 3
PSDB
Parlamentar UF Voto
Aécio Neves MG SIM
Antonio Anastasia MG SIM
Ataídes Oliveira TO NÃO
Cássio Cunha Lima PB NÃO
Dalirio Beber SC NÃO
Eduardo Amorim SE NÃO
José Serra SP SIM
Paulo Bauer SC SIM
Ricardo Ferraço ES NÃO
Total PSDB: 9
PT
Parlamentar UF Voto
Fátima Bezerra RN SIM
Gleisi Hoffmann PR SIM
Humberto Costa PE SIM
Jorge Viana AC NÃO
José Pimentel CE SIM
Lindbergh Farias RJ SIM
Paulo Paim RS SIM
Paulo Rocha PA SIM
Regina Sousa PI SIM
Total PT: 8
PTB
Parlamentar UF Voto
Armando Monteiro PE SIM
Telmário Mota RR NÃO
Total PTB: 2
REDE
Parlamentar UF Voto
Randolfe Rodrigues AP NÃO
Total REDE: 1
Republicanos (ex-PRB)
Parlamentar UF Voto
Eduardo Lopes RJ SIM
Total Republicanos: 2
Sem partido
Parlamentar UF Voto
Reguffe DF NÃO
Total Republicanos: 2

 

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