O presidente também comparou Campos Neto ao ex-juiz e atual senador Sergio Moro, criticando o que ele vê como um comportamento politicamente comprometido.
Nesta terça-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. O motivo da crítica foi a participação de Campos Neto em um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na semana passada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Lula questionou a imparcialidade e a autonomia de Campos Neto, sugerindo que o presidente do BC parece estar buscando um cargo no governo de São Paulo.
“O que é importante é saber a quem esse rapaz [Campos Neto] é submetido? Como é que ele vai numa festa em São Paulo quase que assumindo a candidatura a um cargo do governo de SP? Cadê a autonomia dele?”, comentou Lula.
Lula insinuou que Tarcísio de Freitas pode ter influência sobre as decisões de Campos Neto no Banco Central, afirmando: “Não foi que ele se encontrou com o Tarcísio numa festa. A festa foi do Tarcísio para ele. Foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de 10,50%.”
O presidente também comparou Campos Neto ao ex-juiz e atual senador Sergio Moro, criticando o que ele vê como um comportamento politicamente comprometido.
“Nós vamos repetir o [Sergio] Moro? O presidente do Banco Central está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? O paladino da justiça com o rabo preso a compromissos políticos?”, indagou Lula.
Defesa de Campos Neto
Durante sessão no Senado na manhã desta terça, o senador Sergio Moro (União Brasil) defendeu Roberto Campos Neto, presidente do BC, em resposta às críticas feitas pelo presidente Lula. Moro repudiou as declarações de Lula, que questionaram a autonomia de Campos Neto.
“O presidente Lula acabou de fazer um ataque pessoal ao Campos Neto, presidente do Banco Central e à autonomia do Banco Central. Quero aqui registrar meu repúdio. Inclusive ele me menciona nesse ataque ao Campos Neto”, afirmou Moro.
Moro criticou a gestão econômica do governo, afirmando que Lula busca culpados para justificar suas falhas, mencionando o aumento do dólar e a deterioração das expectativas econômicas.
Sergio Moro também acusou o governo de tentar enfraquecer o Banco Central de outras maneiras além dos ataques diretos a Campos Neto.
“A gente está vendo, paralelamente a esses ataques pessoais, uma asfixia do Banco Central por outros caminhos*. Mas, acima de tudo, eu queria aqui registrar minha solidariedade ao presidente Campos Neto e o repúdio ao ataque pessoal, à falta de institucionalidade que foi manifestada hoje pela manhã pelo presidente Lula em relação a ele e ao Banco Central. Querendo levantar uma cortina de fumaça sobre o fracasso do governo na gestão da economia”, finalizou o Senador.
Debate sobre a taxa de juros
Além das críticas, Lula também abordou a questão da taxa de juros, criticando o atual patamar de 10,50% da Selic. Ele argumentou que taxas de juros elevadas são proibitivas para investimentos produtivos e defendeu uma redução dos juros para um nível compatível com a inflação.
“Como é que você vai convencer o empresário de fazer investimentos se ele tem que pagar uma taxa de juros absurda? Então, é preciso baixar a taxa de juros, compatível com a inflação”, afirmou Lula.
As declarações de Lula ocorrem na véspera da próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic, com ampla expectativa do mercado de manutenção dos juros no patamar atual, encerrando um ciclo de sete cortes consecutivos.