Morte de Araceli, em 1973, serviu de marco para a criação do Dia Nacional de Combate ao Abuso Sexual contra crianças, neste 18 de maio.
A Campanha Maio Laranja é uma iniciativa nacional que ocorre durante todo o mês de maio, destacando o dia 18, conhecido como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no Brasil. A campanha busca aumentar a visibilidade e conscientização sobre o enfrentamento ao abuso e à exploração sexual infantil.
De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, entre 2015 e 2021, foram notificados 202.948 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.
Em 2023, foram registrados nos os quatro primeiros meses cerca de 69,3 mil denúncias e 397 mil violações de direitos humanos de crianças e adolescentes. Dentre essas denúncias, 9,5 mil e 17,5 mil violações envolvem violências sexuais, tanto físicas – como abuso, estupro e exploração sexual – quanto psíquicas.
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Esses números refletem a necessidade de um sistema de apoio robusto para ajudar na recuperação dessas crianças.
Uma Jornada de Superação na Casa Mamãe Margarida
Desde 1986, a Casa Mamãe Margarida desempenha um papel vital na proteção e desenvolvimento de crianças em situação de vulnerabilidade na cidade de Manaus.
Há mais de três décadas esta ONG atua como um refúgio seguro e como uma escola proporcionando educação do 2º ao 5º ano do ensino fundamental e oferecendo cursos de dança, teatro, arte criativa e manual para sua formação e desenvolvimento.
Para entender melhor a importância de uma instituição que acolhe meninas vítimas de violência sexual, a Rede MlC conversou com a Vanuza Campanini, psicóloga e cordenadora da Casa Mamãe Margarida.
A coordenadora compartilhou a trajetória de luta e vitória, desde à infância marcada por violência até seu papel atual na instituição que transformou sua vida.
Aos 9 anos de idade, Vanuza conta que fugiu de um acolhimento institucional do governo, escapando por um buraco que fez no muro. “Estava cansada de sofrer e decidi ir em busca desse lugar que seria minha família”, relembra.
Vanuza ouviu falar da Casa Mamãe Margarida por outras meninas do acolhimento, que descreviam a instituição como um lugar muito bom. Mesmo sem conhecê-la, seguiu o instinto e a esperança de um futuro melhor.
Chegar sozinha à Casa Mamãe Margarida foi um momento marcante. Na instituição teve acesso à garantia de direitos, educação e acompanhamento psicossocial, ferramentas que foram essenciais para sua reabilitação.
“A forma como fui acolhida fez toda a diferença para a minha transformação”, afirmou.
Vanuza compartilhou que os traumas da infância causaram muitos bloqueios pedagógicos e dificuldades de aprendizagem.“Comecei a ler e escrever aos 10 anos de idade, sempre fui a mais velha na sala e isso causava um pouco de vergonha”, conta.
O acompanhamento psicossociopedagógico oferecido pela instituição foi crucial para sua superação. Ela destaca a importância do apoio psicológico que recebeu, essencial para a transformação e crescimento pessoal.
A decisão de se tornar psicóloga surgiu enquanto trabalhava como cuidadora na Casa Mamãe Margarida. As meninas compartilhavam suas dores, medos e traumas com ela, e então percebeu que precisava oferecer algo mais profundo e curativo.
“Sem o acompanhamento psicológico, talvez não teria me tornado a pessoa que sou hoje”, explica.
Foi então que Vanuza decidiu seguir essa carreira, com o objetivo de proporcionar o mesmo apoio que recebeu, ajudando outras meninas a reescreverem suas histórias.
Além das responsabilidades administrativas, a cordeonadora também atende as meninas sempre que necessário, oferecendo apoio psicológico e emocional.
Maiores Desafios
Trabalhar com crianças vítimas de violência sexual apresenta desafios significativos. Vanuza explica que muitas das meninas sofrem violência em casa por longos períodos antes de serem acolhidas, o que pode levar ao desenvolvimento de condições como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.
“Esses problemas tornam o processo de tratamento e acompanhamento ainda mais complexo e delicado”, afirma.
Apesar dos desafios, Vanuza encontra motivação na transformação que vê nas meninas. “O acolhimento e o acompanhamento que oferecemos podem realmente mudar vidas. Eu sou a prova viva disso“, conclui, referindo-se à sua própria experiência de superação e crescimento dentro da instituição.
A dedicação de Vanuza Campanini exemplifica o impacto profundo que uma abordagem compassiva e profissional pode ter na vida de meninas que enfrentam traumas severos, reforçando a importância vital de instituições como a Casa Mamãe Margarida.
Campanha Maio Laranja
A campanha “O Maior Laranja” é uma iniciativa brasileira focada na conscientização e combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. O ponto central dessa campanha é o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrado em 18 de maio, uma data instituída pela Lei Federal 9.970/2000.
A origem da campanha remonta ao caso de Araceli Cabrera Crespo, uma menina de oito anos que foi sequestrada, violentada e assassinada em 1973. Esse caso chocante e a falta de justiça plena para Araceli impulsionaram a criação de uma data nacional para mobilizar a sociedade contra tais crimes
O “Maio Laranja” representa um mês inteiro dedicado a ações de conscientização, prevenindo e enfrentando a violência sexual. A cor laranja e a flor de gérbera, símbolos da campanha, são usadas para chamar a atenção para a fragilidade e vulnerabilidade das crianças. O slogan “Faça Bonito – Proteja nossas crianças e adolescentes” também é amplamente utilizado para fortalecer a mensagem.
Saiba como denunciar
Para denunciar casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, você não precisa se identificar. Existem vários canais disponíveis para realizar essas denúncias de forma anônima:
- Disque 100: Serviço de Direitos Humanos que opera 24 horas por dia, recebendo denúncias de violações dos direitos humanos.
- Polícia Militar: Ligue para o Disque 190 em situações de emergência.
- Conselho Tutelar em Manaus – AM: Pode ser contatado pelo número (92) 3303-5267, também disponível via WhatsApp.
- Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca): O Disque-Denúncia está disponível pelo número (92) 99115-1284.
Esses canais garantem o anonimato do denunciante e são fundamentais para a proteção das vítimas e para a punição dos responsáveis.