Doença pode causar lesões neurais e danos irreversíveis, mas se diagnosticada precocemente, a infecção é curável
O Brasil é o segundo país do mundo com o maior número de ocorrências da doença. Apenas em 2022, foram mais de 17,2 mil registros. Devido aos altos índices, a infecção ainda é considerada um problema de saúde pública no país.
Somente o Amazonas notificou preliminarmente, no ano passado, 320 casos gerais, além de 34 registros em pacientes menores de 15 anos. A hanseníase pode causar lesões neurais e danos irreversíveis, mas se diagnosticada precocemente, a infecção é curável. Por isso, é importante que o paciente, ao perceber sintomas de risco, procure o atendimento profissional.
Atendimento em Manaus
Sete unidades de saúde da rede municipal de Manaus já estão disponibilizando o teste rápido na detecção de anticorpos da hanseníase (teste imunocromatográfico). Incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) no início de 2023, o novo exame tem como finalidade a avaliação de pessoas que sejam consideradas como contatos de casos novos de hanseníase.
A técnica do Núcleo de Controle da Hanseníase da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), enfermeira Eunice Jácome, explica que são consideradas como contatos toda e qualquer pessoa que resida ou tenha residido, conviva ou tenha convivido com o doente de hanseníase, no âmbito domiciliar, nos últimos cinco anos anteriores ao diagnóstico da doença, podendo ser familiar ou não.
“O teste rápido é utilizado para detectar a presença de anticorpos da Mycobacterium leprae, bactéria que causa a hanseníase. Ele não indica se há ou não a doença, mas a presença de anticorpos aponta que o contato tem maior risco de desenvolver a hanseníase. Com esse resultado, a rede de saúde terá informações necessárias para reforçar o acompanhamento do contato por um período de cinco anos. Assim, caso haja o desenvolvimento da doença, será possível obter um diagnóstico precoce e iniciar o tratamento, evitando que paciente tenha sequelas da hanseníase”, destaca Eunice Jacome.
As sete Unidades de Saúde de referência com a oferta do exame são:
Carmen Nicolau e Carlson Gracie (zona Norte); Senador Severiano Nunes e Lago do Aleixo (zona Leste); Lúcio Flávio (zona Sul); e Leonor de Freitas e Lindalva Damasceno (zona Oeste).
Segundo Eunice Jácome, 44 profissionais foram treinados para a implantação do exame, que pode ser feito com a amostra de sangue coletada a partir da punção da ponta do dedo do paciente, com a vantagem de não ter necessidade de equipamentos adicionais para a leitura dos resultados.
“O resultado do exame é disponibilizado em até 20 minutos. A Semsa elaborou uma nota técnica encaminhada para todas as unidades de saúde, orientando sobre o fluxo de atendimento e critérios na oferta do teste rápido. Todas as unidades de saúde têm profissionais capacitados para o diagnóstico da hanseníase e a nota técnica orienta sobre o encaminhamento dos contatos para a realização do teste rápido”, informa Eunice.
No fluxo de atendimento da rede municipal, todas as pessoas consideradas como contatos de pacientes com diagnóstico confirmado de hanseníase devem realizar inicialmente um exame clínico, com avaliação dermatológica e neurológica, que vai definir ou não o diagnóstico para a hanseníase.
Após esse exame clínico, que pode ser feito em qualquer unidade de saúde da rede municipal, o paciente com a confirmação da doença receberá o tratamento adequado. Se não houver a confirmação, é feito o encaminhamento para realização do teste rápido, que vai indicar se a pessoa apresentou anticorpos da hanseníase.
Casos
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen. A transmissão da doença ocorre quando uma pessoa doente, sem tratamento, elimina o bacilo por meio de secreções nasais, tosses ou espirros, transmitindo para pessoas sadias que convivem próximo e por tempo prolongado no mesmo ambiente.
Os sintomas da doença surgem na pele e nos nervos. No caso de sintomas neurológicos, podem surgir: formigamento, dormência, sensação de agulhada ou alfinetada, queimação ou sensação de brasa, sensação de um frio doloroso e sensação de choque elétrico. Os sintomas dermatológicos incluem manchas claras, ou avermelhadas e acobreadas com alteração de sensibilidade, perda ou diminuição do suor, e perda de pelo.
A hanseníase tem um longo período de incubação, o que significa que a manifestação dos sinais e sintomas pode demorar vários anos após a infecção, levando em média de dois a sete anos.
Este ano, Manaus registrou 94 casos novos de hanseníase, sendo quatro casos em menores de 15 anos. Do total de casos, uma proporção de 18,82% de pacientes apresentou grau 2 de incapacidade física, ou seja, já apresentavam sequelas no momento do diagnóstico.
“Com o longo período de incubação, é necessário que as pessoas que são contatos dos pacientes com confirmação da hanseníase tenham um acompanhamento adequado para que a doença possa ser diagnosticada precocemente”, reforça Eunice Jácome.
A Semsa registrou uma proporção de 91% de contatos examinados em 2023, com 273 pessoas examinadas.