As investigações também apontaram que a carreta estava transitando com excesso de velocidade e transportava uma carga com peso superior aos limites permitidos.
Um grave acidente envolvendo uma carreta na BR-116, em Teófilo Otoni (MG), deixou 39 mortos e revelou uma série de irregularidades, incluindo o uso de substâncias ilícitas pelo motorista. O caminhoneiro Arilton Bastos Alves, que conduzia o veículo, foi preso nesta terça-feira (22).
O acidente ocorreu na madrugada de 21 de dezembro de 2024, quando a carreta transportava dois blocos de quartzito com peso total superior a 68 toneladas, muito acima do permitido pela legislação de trânsito. Combinado ao peso do veículo e dos semirreboques, o total chegava a 91,2 toneladas, quase o dobro do limite permitido.
De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), uma das pedras teria se desprendido da carreta e colidido com um ônibus de turismo que transportava 45 pessoas. Apenas seis passageiros sobreviveram ao impacto.
“Essa pedra de granito entra como um tanque de guerra nesse ônibus, causando essa explosão e esse evento trágico na BR-116”, declarou o delegado regional de Teófilo Otoni, Amaury Tomaz de Albuquerque, durante coletiva de imprensa na quarta-feira (22).
As investigações também apontaram que a carreta trafegava acima do limite de velocidade. No momento do acidente, o veículo estava a 90 km/h, em uma rodovia onde o máximo permitido é 80 km/h.
Uso de drogas
Exames toxicológicos realizados no motorista revelaram a presença de cocaína, ecstasy e álcool no organismo. O material biológico foi coletado dois dias após o acidente, em 23 de dezembro, quando Alves se apresentou à polícia após ter fugido do local da colisão.
“Foram identificadas substâncias lícitas e ilícitas na urina do condutor, e essas substâncias foram inclusive quantificadas, o que permitiu indicar de forma técnica e precisa que, no momento dos fatos, ele possuía tais substâncias no corpo“, explicou Thales Bittencourt, superintendente de Polícia Técnico-Científica da PCMG.
Segundo Bittencourt, motoristas profissionais são proibidos de utilizar substâncias como as identificadas nos exames.
“É importante dizer que o motorista profissional não pode usar determinadas substâncias. Isso coloca em risco a vida de todos na estrada”, afirmou.
Decisão judicial
Apesar de ter sido inicialmente liberado após prestar depoimento, Alves teve a prisão preventiva decretada nesta semana pelo juiz Danilo de Mello Ferraz, da 1ª Vara Criminal de Teófilo Otoni. A decisão considerou o uso de drogas, o sobrepeso da carga, o excesso de velocidade e o fato de o motorista ter deixado o local do acidente.
“Não há como tratar este caso como simples descuido ou inobservância de um dever de cuidado. Trata-se de uma deliberada assunção de risco, agravada pelo uso de drogas”, escreveu o magistrado na decisão.
O histórico do motorista também pesou na decisão judicial. Em julho de 2022, Alves foi flagrado dirigindo embriagado e teve a habilitação suspensa.
Defesa
A defesa de Arilton Bastos Alves classificou a prisão preventiva como “extrema e injustificada”. Em nota, o advogado Raony Fonseca Scheffer Pereira destacou que o cliente colaborou com as investigações e questionou a validade dos exames toxicológicos.
“Não há comprovação categórica de que ele estivesse sob efeito de substâncias psicoativas no momento do acidente”, afirmou o advogado, que pretende recorrer da decisão.
A tragédia na BR-116 permanece como uma das mais graves já registradas nas rodovias brasileiras, reforçando a necessidade de maior fiscalização e responsabilidade no transporte de cargas pesadas.