Investigações devem analisar água utilizada, centro cirúrgico e esterilização de materiais.
Aos menos 8 de 15 pessoas tiveram perda do globo ocular após complicações em decorrência em um mutirão de cirurgia de catarata no último dia 27, em Parelhas, a 245 km da capital do Rio Grande do Norte.
Foram realizados cerca de 20 diferentes procedimentos cirúrgicos na Maternidade Dr. Graciliano Lordão, onde 15 dos 48 pacientes atendidos apresentaram sintomas de endoftalmite.
Além dos oito pacientes que perderam algum olho, quatro precisaram passar por vitrectomia, cirurgia para retirada de um líquido presente no olho, e outros três evoluíram bem ao tratamento, mas ainda não conseguem enxergar.
Endoftalmite
Causada pela bactéria Enterobacter Cloacae, a endoftalmite é uma infecção ocular que afeta os tecidos, fluidos e até estruturas da parte interna do olho, sendo considerada uma emergência oftalmológica.
Caso não seja diagnosticada e tratada corretamente, a endoftalmite pode causar atrofia do globo ocular e levar a cegueira.
Segundo a classificação por origem, a doença pode ser:
- Pós-operatória: associado a cirurgia de catarata, transplante de córnea, entre outros procedimentos;
- Endógena: quando o agente causador vem de dentro do corpo, via sangue, por exemplo;
- Pós-traumática: resultante de algum processo traumático;
- Miscelânia: quando ocorre associada a outras doenças, como a ceratite microbiana, por exemplo.
No caso registrado em Parelhas, a causa mais provável estudada é que a infecção tenha ocorrido no pós-operatório.
O que dizem as autoridades
Segundo a Prefeitura de Parelhas, a Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária (Suvisa), está apurando o caso.
“O credenciamento para os procedimentos cirúrgicos seguiu rigorosamente todos os trâmites legais, com pesquisa mercadológica, registro no Portal de Compras Públicas e envio ao Tribunal de Contas, garantindo total transparência.” declarou a prefeitura.
A Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte também acompanha o caso e esclarece que as cirurgias foram realizadas a partir de uma contratação feita pela gestão municipal, ou seja, sem a participação do estado.
“Infelizmente, 15 pacientes foram acometidos pela infecção bacteriana. Destes 15, 8 tiveram que retirar o globo ocular, 4 fizeram cirurgia de vitrectomia [substituição de um gel que fica dentro do olho] e 3 seguem sendo acompanhados pelos oftalmologistas”, informou o secretário de Saúde do município, Tiago Tibério dos Santos.
Ainda segundo o secretário, cerca de 330 procedimentos do mesmo tipo foram realizados desde maio de 2022, antes do mutirão de setembro e apenas estes apresentaram complicações.
Uma notificação formal foi enviada à Oculare Oftalmologia Avançada, empresa responsável pelos procedimentos para possíveis esclarecimentos e um inquérito civil foi instaurado para investigar as circunstâncias e responsabilidades do ocorrido.