De saída, Campos Neto diz que fase à frente do BC foi a mais feliz de sua vida.
O atual presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, está se preparando para deixar o cargo em um momento de nova alta na taxa básica de juros. O Campos Neto mandato chega ao fim no dia 31 de dezembro, quando será substituído por Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ao se despedir de quase seis anos como presidente do BC, revelou a emoção que tem marcado as últimas semanas no cargo.
Durante um jantar de homenagem realizado na noite de ontem (10), o economista expressou o comprometimento em continuar defendendo a instituição mesmo após a saída. Ele declarou que liderar o BC foi “a fase mais feliz de sua vida”.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) , marcada para esta quarta-feira (11), Campos Neto e os outros oito diretores devem aprovar um novo aumento da taxa Selic, atualmente em 11,25% ao ano.
Analistas esperam um aumento de 0,75 ponto percentual (pp), mas, diante da recente disparada dos juros futuros, as previsões agora apontam para um aumento de 1 pp.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na terça-feira (10), reforçam a necessidade de uma política monetária mais restritiva. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro subiu 0,39%, acumulando uma alta de 4,87% nos últimos 12 meses, acima do teto da meta de inflação.
Se confirmada, a decisão do Copom reforçará a independência da autoridade monetária, algo que Campos Neto defendeu com firmeza durante seu mandato, apesar das críticas constantes do governo Lula.
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Desde o início da gestão de Campos Neto, o economista tem sido alvo de críticas por parte do PT, que pressiona por uma redução na taxa de juros.
“Na véspera do último Copom presidido por Campos Neto, aumenta o terrorismo para elevar ainda mais a indecente taxa de juros. O PIB cresce acima das variações, emprego e renda também, arrecadação em alta, inflação dentro dos limites de uma meta exageradamente rigorosa, boas reservas, mas na mídia só se fala em ‘risco fiscal’”, escreveu a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em suas redes sociais.
Quem é o presidente do BC que se despede e o legado de autonomia que rendeu reconhecimento do mercado
Campos Neto, o primeiro presidente do BC sob o regime de autonomia da instituição, estabelecido em 2021, no governo Bolsonaro, enfrentou diversas pressões políticas.
A ligação com o governo anterior, além de atitudes como vestir uma camisa da seleção brasileira durante as eleições de 2022, alimentaram críticas por parte dos petistas, que o associam ao bolsonarismo. Apesar disso, Campos Neto defendeu a postura técnica e a autonomia do BC durante todo o mandato.
A gestão de Campos Neto também foi marcada por iniciativas tecnológicas como o lançamento do Pix, que se tornou o meio de pagamento mais utilizado no Brasil, o avanço do open finance e o desenvolvimento do Drex, a moeda digital do real.
Essas medidas receberam reconhecimento, com o BC resultando em 35 prêmios durante na liderança, incluindo o título de “Banco Central do Ano 2024” pela revista Central Banking.
“Roberto Campos Neto sempre teve atitudes técnicas enquanto diretor do BC”, diz Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Campos Neto também defendeu uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que concederia autonomia financeira ao Banco Central, transformando-o em uma empresa pública de natureza especial e personalidade jurídica de direito privado.
Essa medida gerou atritos com o governo, que tem esperanças de um alinhamento maior do BC com as metas de crescimento econômico e inclusão social após a posse de Gabriel Galípolo.
Galípolo, porém, terá grandes desafios. “Não é pequeno o tamanho do sapato que Gabriel Galípolo terá que calçar para se equiparar a Campos Neto”, afirma Felipe Vasconcellos, da Equus Capital.