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Economia

EUA e China travam nova guerra comercial: tarifas ultrapassam 100% e impacto global preocupa

Economistas são quase unânimes em afirmar: uma guerra comercial em larga escala entre EUA e China trará consequências globais severas. - Foto: Jason Lee/Reuters
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Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), juntos, China e Estados Unidos representam aproximadamente 43% da economia global.

Uma nova e intensa guerra comercial entre Estados Unidos e China está se formando após a imposição de tarifas superiores a 100% sobre produtos chineses pelo presidente americano Donald Trump, em vigor desde esta quarta-feira (9).

Em resposta, o governo chinês declarou que “vai lutar até o fim” e não aceitará o que classifica como coerção por parte dos EUA. A retaliação foi imediata: Pequim elevou as próprias tarifas de importação sobre produtos americanos para 84%.

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Mas o que essa escalada entre as duas maiores economias do mundo significa para o cenário econômico global?

Relações comerciais bilionárias

Em 2024, o comércio bilateral de mercadorias entre EUA e China movimentou cerca de US$ 585 bilhões. Deste montante, os Estados Unidos importaram US$ 440 bilhões em produtos chineses, enquanto as exportações americanas para a China somaram US$ 145 bilhões.

Esse desequilíbrio gerou um déficit comercial de US$ 295 bilhões para os EUA – valor significativo, representando aproximadamente 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Ainda assim, é muito inferior ao montante de US$ 1 trilhão que Donald Trump alegou repetidamente nesta semana.

Durante o primeiro mandato, Trump já havia implementado tarifas expressivas contra produtos chineses, mantidas e ampliadas pelo sucessor, Joe Biden. Como resultado, a participação da China nas importações totais dos EUA caiu de 21% em 2016 para 13% em 2023, reduzindo a dependência comercial americana em relação aos chineses.

Contudo, especialistas apontam que parte das exportações chinesas foi redirecionada via países do Sudeste Asiático. Em 2018, por exemplo, os EUA impuseram tarifas de 30% sobre painéis solares da China.

Mas, segundo o Departamento de Comércio americano, fabricantes chineses transferiram etapas de montagem para países como Malásia, Vietnã, Camboja e Tailândia, exportando de lá os produtos para os EUA e contornando as tarifas.

Agora, com novas tarifas “recíprocas”, esses países também serão afetados, o que encarecerá produtos de origem chinesa disfarçados de sul-asiáticos.

O que cada país exporta?

A principal exportação americana para a China em 2024 foi a soja – essencial para alimentar os cerca de 440 milhões de porcos no país asiático. Produtos farmacêuticos e petróleo também figuraram entre os itens exportados pelos EUA.

Já a China enviou aos EUA grandes quantidades de eletrônicos, computadores, brinquedos e baterias (essenciais para veículos elétricos). A categoria mais relevante foram os smartphones, representando 9% do total importado pelos americanos – muitos deles fabricados na China para a Apple, empresa com sede nos EUA.

Essa relação tem afetado diretamente o valor de mercado da Apple, cujas ações caíram 20% no último mês, impactadas pelas tarifas impostas anteriormente – de 20%. Se a alíquota subir para 104%, o impacto poderá ser cinco vezes maior.

Por sua vez, as tarifas chinesas de 84% também encarecerão os produtos americanos para os consumidores chineses, afetando igualmente o poder de compra no país.

Além das tarifas: disputas tecnológicas e minerais

A guerra comercial não se limita às tarifas. A China desempenha papel crucial no refino de metais estratégicos para a indústria, como cobre, lítio e terras raras. Já restringiu o envio de elementos como germânio e gálio – usados em sensores térmicos e radares militares – para os EUA.

Washington, por sua vez, pode intensificar as restrições tecnológicas, especialmente sobre a exportação de microchips avançados – indispensáveis para aplicações de inteligência artificial – que a China ainda não consegue produzir sozinha.

Peter Navarro, conselheiro comercial de Trump, sugeriu nesta semana que os EUA pressionem países como Camboja, México e Vietnã a limitarem relações com a China se quiserem continuar exportando para os americanos.

E os efeitos no resto do mundo?

Juntas, China e Estados Unidos representam aproximadamente 43% da economia global, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Um conflito prolongado entre as duas nações pode desacelerar o crescimento global ou até levar a recessões em algumas regiões.

O investimento internacional também tende a ser afetado.

Além disso, a China, maior potência manufatureira do mundo, produz mais do que consome internamente. O superávit comercial está próximo de US$ 1 trilhão, impulsionado por subsídios e crédito facilitado do Estado para empresas-chave.

Setores como o do aço já enfrentam o risco de “dumping” prática de venda abaixo do custo de produção para conquistar mercados -, caso os produtos chineses não encontrem espaço nos EUA. Essa estratégia pode prejudicar fabricantes de outros países e colocar empregos em risco.

O grupo UK Steel, por exemplo, já alertou sobre o risco de uma enxurrada de aço chinês atingir o Reino Unido, caso o produto seja redirecionado.

Economistas são quase unânimes em afirmar: uma guerra comercial em larga escala entre EUA e China trará consequências globais severas. E ninguém sairá ileso.

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